Enquanto o sucesso “Marujos do Amor” prometia empolgar a cidade no Cinema Imperial em setembro de 1947, a poucos metros dali uma movimentação agitava as ruas do centro de Porto Alegre. Uma greve estudantil que reivindicava o direito de 50% de desconto nos cinemas e no transporte coletivo reunia os jovens da capital gaúcha.
Alegorias da Greve
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Acervo: Delfos/PUCRSLideradas pela Federação dos Estudantes Universitários em Porto Alegre (FEUPA) as manifestações seguiram por vários dias nas ruas da área central da cidade. Foram realizadas diversas passeatas, comícios e tentativas de desestimular que pessoas comprassem ingressos nas bilheterias dos cinemas.
Estudantes no comitê de greve – Casa do Estudante Secundário
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Acervo: Delfos/PUCRS
Manifestação Rua da Praia em frente ao Cine Roxy
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Brizola, que inicialmente assumiria um papel conciliador, acabaria liderando o repúdio às ações cometidas sem justificativas, conduzindo estudantes até a Central de Polícia para exigir a libertação dos detidos e organizando um comício em frente à repartição.
Manifestação na Rua da Praia
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Acervo: Delfos/PUCRS
Manifestação na Rua da Praia
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Acervo: Delfos/PUCRS
Vitória parcial
Após uma semana, os jornais concederam maior espaço ao noticiário da greve, a polícia publicou uma nota de esclarecimento sobre os acontecimentos e os órgãos estudantis divulgaram protestos contra, segundo os próprios estudantes, a “arbitrariedade e desrespeito à Constituição”
Convencimento dos espectadores em frente aos cinemas
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Acervo: Delfos/PUCRSO acordo final não atingiu os tão desejados 50% de desconto nos ingressos de cinema, mas sim 33% . Os estudantes comemoraram com uma nova passeata, mas nunca deixaram de lutar por seus direitos.
Relato de transeuntes para Revista do Globo, 1947
“Essa rapaziada não precisa disso. 50% em diversões não passa de balela. O que essa gente quer é pretexto pra não estudar. Já bastam os feriados que temos, e ainda querem perder tempo com campanhas!”
“Estudante é estudante. Estou com eles. E, aliás, já estavam demorando em mostrar que ainda há dignidade nesta terra. E querem saber de uma coisa: ainda vem mais, isto é só o começo…”
Estudantes afastando espectadores das bilheterias
(Revista do Globo, Edição 443, 1947)
Em Marujos do Amor, uma comédia musical, Frank Sinatra e Gene Kelly são dois marujos que foram condecorados por bravura e ganharam quatro dias de licença na glamourosa Los Angeles.
Cinema Imperial
O Cine Teatro Imperial foi inaugurado em 18 de abril de 1931. Situava-se na Praça da Alfândega e foi tombado pela Secretaria Municipal da Cultura – SMC em 2004. Com 1.632 lugares, garantia boa visibilidade em qualquer ponto da sala e foi palco de grandes espetáculos. Era considerado o cinema mais luxuoso da época. Fechado desde o ano de 2005, o prédio aguarda restauro e abrigará um centro cultural da Caixa Econômica Federal.
Acervo: Museu de Porto Alegre, 1930
Federação dos Estudantes Universitários em Porto Alegre (FEUPA)
Com data de fundação estimada entre 1934 e 1936, a Federação dos Estudantes de Porto Alegre, FEUPA, pertencia ao movimento estudantil universitário e visava atender os estudantes de todos os cursos presentes na Universidade de Porto Alegre, atualmente Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Para saber mais acesse:
www.seer.ufrgs.br/asphe/article/view/38100
Acervo: Revista Feupa, 1946
Departamento de Ordem Política E Social (DOPS)
O Departamento de Ordem Política e Social foi criado em 30 de dezembro de 1924 com o intuito de assegurar e disciplinar a ordem militar no Brasil. Teve atuação intensa durante a Ditadura do Estado Novo em 1937 e com os governos civis-militares que se instalaram no país após 1964. Responsáveis pela perseguição política, tortura e morte de opositores do regime militar, o DOPS eram estruturas distintas em cada estado da federação. O órgão também foi responsável pela censura dos meios de comunicação e pelo controle da produção artístico-cultural. Foi extinto em março de 1983 e ainda representa uma triste lembrança do autoritarismo brasileiro.
Leonel Brizola
Leonel Itagiba de Moura Brizola nasceu no povoado de Cruzinha, hoje pertencente ao município de Carazinho, em 22 de janeiro de 1922. De origem humilde e filho de agricultores, mudou-se para a capital gaúcha onde se graduou em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Iniciou sua trajetória pública como Deputado Estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) com apenas 25 anos, em 1947, quando participou ativamente da Greve Estudantil em Porto Alegre pelo direito aos 50%. Ao longo de sua carreira política, Brizola foi Deputado Estadual e Federal pelo RS. Deputado pelo estado da Guanabara, Prefeito de Porto Alegre e Governador do RS e do RJ, tornando-se até hoje a única pessoa a governar dois estados diferentes. Teve papel importante na Campanha da Legalidade, em 1961. Foi exilado durante a ditadura civil-militar e em seu retorno ajudou a criar o Partido Democrático Brasileiro (PDT).